quarta-feira, 6 de julho de 2011

SOCIALIZAÇÃO

Que os Deuses da cerveja estejam conosco nessa noite! Bem, um chopinho também é muito bem vindo! Nesta noite, vamos praticar a uma socialização comportamental intensa. Uma ode ao final de semana! Vamos esquecer o chefe rabugento, a gravata apertada, o sapato que machuca o dedão, o telefone tocando e os clientes chatos. Comemorar a vitória do nosso time, a desclassificação do rival nas quartas-de-final. Vamos rir tudo que não podíamos durante a semana, vamos acordar no outro dia e reclamar da ressaca. Tudo passa pela mesa de bar! Tudo passa com aquela relaxante bebericada com os amigos. Só para relaxar!

Mas sentar em uma mesa de bar pode ser uma guerra. A primeira batalha fica em torno da cadeira. Posso pensar: “sai que essa é minha!” fica com essa que ta manchada de ketchup! Está em jogo também a estratégia para pegar o melhor ângulo da televisão, que quis o destino, o proprietário a colocou de costas pra ti. Sacana! Escolher o petisco da noite não é um momento amistoso também. Por mais que aparentemente seja um momento agradável, há uma batalha invisível de personalidades, há um conflito étnico-racial secular entre a batatinha frita e as iscas de filé. A solução? Pedir polentas fritas.

Então, em um momento de calor e alento, eis que surge lá do fundo, uma loira de corpo dentro das medidas, sensual, que vem caminhando até nós. As mulheres param e observam. Ela sua, coitada. E é este suor que deixa os homens seduzidos, loucos por sua presença. Mas ela está acompanhada. Sortudo o rapaz que a carrega. Com habilidade, há de se dizer. Ué? Ela vem em nossa direção? Sim, e cada vez, cada passo do rapaz, ela parece mais suculenta. Estaria ela chorando? Para felicidade geral, ela senta em nossa mesa. Sim! Que espetáculo! “O que houve Deusa? Por que choras?” Beba-me e verás – Diz a Chope. Sim, a Chope fala!


Desprovidos de qualquer defesa, os petiscos sofrem sempre um ataque fulminante de palitos e dedadas. Como um bombardeio aéreo, batatinhas, iscas de todos os tipos, polenta e outros recebem ataque feroz. Sem piedade. Os combatentes humanos também não se bicam. Em uma disputa ferrenha e não saudável, os seres humanos disputam até a última gota de azeite de oliva. Às vezes o sangue faz parte do tempero.

O vazio da mesa é um sinal claro de tristeza. Coletividade é necessário neste momento. Ninguém chora sozinho. É capaz de o assunto tornar-se repetitivo. Já ouviram falar em chuva três vezes ao dia? Quando o monótono tempo é o melhor a se discutir, é hora de ir embora. Ultimo gole, gorjeta e tchau.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A FORMATURA

Fim de segundo semestre acadêmico. Longe do stress das provas, mas perto da toga escaldante. Formando depois que apresenta o Trabalho de Conclusão de Curso sofre. Trinta graus passados e a gravata ainda sem nó paira mórbida em cima da cama e é surrada por mãos masculinas até que a salvação delicada da mão feminina que vem a calhar. Um terno listrado e uma meia marrom cheirando à talco expressam o inicio do sofrimento naquele fim de tarde de verão. Só está começando. Sofrimento só pelos fatos seguintes, mas para os convidados da cerimônia de colação de grau acadêmico, orgulho. O auditório da reitoria da Universidade Federal vazio, a não ser pelos armadores de palco da empresa de eventos contratada.

Lá fora, homens e mulheres disfarçam em vão o calor que vêem sentindo desde as 5 da tarde com seus respectivos trajes de gala. São 7 e meia e nada de ar condicionado. Ao entrar no auditório, um suspiro de alívio pela queda brusca de temperatura que faz os presentes relaxar os ombros. Aos poucos os VIPs são separados dos meros mortais em sua área reservadíssima marcada por uma monumental...cordinha de lã. Sem contar a plaquinha feita de papel A4 recortada escrito VIP em letras garrafais, Arial Black, tamanho 72.

Então, o inútil mestre de cerimônias dá início aos trabalhos, e o hino nacional é aplaudido ao final do último si bemol. Aluno por aluno, I feel good por Aleluia, o tempo vai passando e a hora mais temida aproxima-se: os discursos. Os formandos ás vezes discursam coisas diferentes e com algum sentido para o público. Geralmente, o que ficamos sabendo, é que a turma era unida e que cada um sentirá falta do outro, que o professor de sistemas financeiros era o mais carrasco e que a tia da limpeza era companheira de todas as horas. Então, o que falar do discurso do Reitor? Não sei, nunca presto atenção. Alguém sabe? Um discurso desnecessário é o do professor paraninfo. Pra quê? Se o conteúdo do texto é sempre dirigido aos alunos, não há motivos para tal pronunciamento público. Correto?

Chapéus ao alto é sinônimo de alívio, muitas vezes. Significa que tudo está acabando e que finalmente a festa está prestes a começar. Porém, o último desafio é à saída do auditório. Uma porta aberta entre as 5, mas tudo bem. Aglomeração é arte. Depois de abraços e beijos, presentes e mimos, formandos e convidados unem-se na pista de dança, e a noite vai além e além. Tudo isso pra não ter o diploma em mãos. Claro, abra-se o canudo e um bilhete que diz “buscar seu diploma na semana que vem na Reitoria. Parabéns”. Parabéns, você sobreviveu à uma cerimônia de formatura!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

(NÃO) DEU PRAIA!

Gasolina? Ok. Pneus? Ok. Balanceamento? Ok. Óleo? Ok. Malas? No carro. Cerveja? No isopor. Sogra? No porta-malas. Sim, podemos ir. Enquanto o sol começa a aparecer no leste, a brisa fria da manhã traz reclamações: “fecha esse vidro, Reginaldo.” Mas é claro que o vento não incomoda. É verão e estamos de férias! O que poderá incomodar além do corta-gramas do vizinho? “Mãe esqueci o bikini rosa em casa”. “Pai, falta muito?” Sim, falta, mesmo a 200 metros da areia, falta muito pra quem aturou a mesma pergunta em uma média de 2 perguntas a cada 15km rodados. E só estamos nos deslocando.

Na beira da praia, alimentados por milho verde, nos pés, o vermelho, o maiô é azul, o calção de banho é cinza e a sunga é preta. OK, estamos perto do carnaval mesmo. O castelinho de areia parece ser uma obra fenomenal da engenharia, aos olhos da criança. Enquanto o pai tenta ficar o guarda-sol na areia, as costas sem proteção ardem. À noite, o vermelho aparecerá e será difícil dormir. A garota engana-se ao achar-se baixinha. “Por que os outros estão mais altos?” Dois passos e o buraco dentro d’água revelam-se. Uma armadilha.

Ao cair da tarde a cena é parecida de movimento migratório. Um êxodo em direção ao chuveiro instalado na beira do calçadão. É hora dos pescadores de final de semana entrar em ação. Munidos de varas e iscas, ou então de instrumentos à procura de mariscos escondidos na areia. Duas horas e um Papa-Terra depois, uma passadinha no mercado, e o retorno triunfal para casa com 1,5kg de pescado. Triunfo, mas ao se esquecer de tirar o preço, o pescador mascarado é descoberto. Ah sim, peixe congelado também não adianta.

Após dormir com o barulho relaxante das ondas quebrando na praia, a segunda-feira amanhece, mas desta vez, deve-se acordar cedo a fim de comprar o pão quentinho. Sem gravata. A filha adolescente recém chega da noite come um pedaço de pão e só acorda dali a algumas horas para almoçar. Ao ligar a televisão, más notícias. A chuva é prevista, então, tudo indica que a família ruinir-se-á em volta da mesa. Pife, Buraco, Canastra, Poker, Truco (mineiro, paulista, gaudério). Cartas vão e vem assim como as horas transitam pelo relógio. E a chuva teima a continuar... BUM! No estouro da caixa de luz, só uma certeza: Jantar à luz de velas!

Domingo, carvão, jornal, churrasqueira, carne. Campari, cerveja, gelo, água mineral e álcool. Ossos, sobras e gordura. Festa do cão que balança a cauda de felicidade com seus ossos fresquinhos. Fogo alto, carne assada. Mesa montada. Churrasco! Depois da cesta, o futebol na TV. À noite, festa, quem sabe. Os pais vão ler na cama. Na segunda-feira começa mais um dia de verão. Mais um dia de férias. Sem preocupação com a gravata.