domingo, 29 de agosto de 2010

PAY TO PRAY

Jesus pirou. Ele virou vítima da própria religião que fundou. Não por ela ter o atingido, mas por ela ter se tornado um show à parte. Parece que o fato de o Nazareno ter sido pobre, cativou os corações dos grandes religiosos ao longo do tempo. É preferível acreditar que os grandes templos, altares, monumentos, e até um estado reconhecido seriam atos de solidariedade exagerados em favor do criador? Ora, se ele era pobre e miserável, passava fome e, ainda assim, pregava a solidariedade, cabe então retribuir e construir uma “casa” digna ao Fundador. A propósito, a pobreza e a miséria estão erradicadas no planeta? Preste atenção a esta pergunta.

Roma ruiu e vivenciou-se o crescimento assustador do “império” cristão. A Idade Média tornou-se uma vitrine de mil anos de devoção a Deus e seu filho. Até aí, tudo bem, os templos foram construídos e são grandes, sim, para comportar os fiéis que vinham crescendo de número cada vez mais. Mas talvez, com a proximidade em datas com o surgimento da cristandade, a religião não era nem um pouco de ser banalizada pelo que vemos nos dias presentes. Havia a necessidade de chamar novos seguidores e espalhar as idéias de Cristo por toda a Europa e ainda conter o avanço muçulmano, surgindo então, as cruzadas. Talvez seja aí que possa se explicar os monumentos belíssimos que foram construídos nessa época, e mesmo assim, a simplicidade, acredito eu, é percebida.

A fé em Cristo manteve sua essência ao decorrer dos tempos. Mesmo com a vinda do Renascimento, Iluminismo e revoluções científicas, os fiéis mantinham seus costumes e continuaram pregando os ensinamentos de Jesus. Porém, há um fato que não pode passar despercebido, para o bem da reflexão: A luxúria dos monumentos. O Estado do Vaticano é rico. Não há dúvidas disso. Com toda a riqueza da Basílica de São Pedro, da vida luxuosa do Papa e dos cardeais e da nomeação de um Estado para confortar a fé, Jesus e seus santos (que não tem nada a ver com isso), é passível de se pensar se a maior religião do mundo não está escrevendo torto com linhas retas.

E então, surgiu a Igreja Universal. Se antes dela, estava começando a me acostumar com padres cantores e missas que mais pareciam campanhas eleitorais com discursos e canções sem fim, agora tenho certeza que para ser fiel não basta somente ajoelhar e rezar. Uma boa oratória, um discurso forte e convincente, uma coreografia inovadora, um salão grande e algumas cadeiras é o suficiente. Basta só registrar CNPJ, e criar uma marca. Nesta empresa de Deus, é fácil registrar lucro no final do exercício: Dízimo. Os cegos fiéis abarrotam as “igrejas” e também o caixa da “Organização de Jesus”. E o dinheiro é muito bem aplicado. Basta ver por aí, as belíssimas, grandiosas e luxuosas construções. E a pobreza? Foi erradicada no planeta?

É um mercado quase perfeito: a concorrência na televisão é grande, os clientes são potenciais compradores dos serviços, as publicidades são bem espalhadas pela cidade, o único porém, é saber se estas empresas pagam devidamente os impostos. Não quero me perguntar se as demais religiões estão banalizadas. Se tiverem, qual ser supremo irá nos salvar? A minha pergunta é: Aonde está Deus? Ele não pagou o dízimo ainda. Procurem-no!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A FESTA

Congele a imagem. Acenda as luzes. Retire todo o gelo seco. Desligue o som. Tire as bebidas dos copos. Agora sim, solte a imagem. Bizarro, não é? Todos se mexendo para um lado e para o outro, sem sentido nenhum. Alguns com um sorriso no rosto, outros com cara amarrada, outros nem aí, há os que estão perdidos no espaço e no tempo. Aquele lá do canto está bêbado, prestes a vomitar. Os apaixonados (ou não) se beijam, o DJ de fone, dança sempre sozinho, coitado. Congela a imagem. Apaga a luz. Enche os copos. Recoloca o som. É festa! Estando todos se divertindo ou não, presencia-se uma versão moderna de um dos eventos mais antigos da humanidade. É Festa!

No salão, na pista, na areia, no asfalto, no barro, seja lá onde for, a hora da festa é onde nós cantamos músicas que detestamos, bebemos mais sem saber, e sem querer alguns descobrem que sabem dançar. Lá pelas tantas, sempre tem um indivíduo que te abraça e quer cantar (gritar) as músicas contigo, mas vocês não se conhecem nem sequer tinham se visto. É o personagem mais clássico das festas: o bêbado divertido (para o bêbado é muito divertido). No meio da muvuca, um se destaca pelo estilo singular de dança. O que coloca as pernas pro ar, espantando as pessoas, e a ser registrado como “boneco de posto”. Ao menos, diverte os observadores “externos”, mas coloca sua reputação em risco no dia seguinte. A não ser que a dança esdrúxula seja uma aposta perdida.

Ah, as bebidas! Elas são responsáveis por fazer os tímidos dançarem e os espalhafatosos...bem, deixa quieto. A não ser que seja água ou suco de laranja, bebidas como cerveja, champanhe, caipirinha, drinques e outros, alimentam a alma da festa. É um fator quase que diretamente responsável pela animação do evento. Às vezes, a música nem é ouvida, ou simplesmente tornam-se ruído perto dos efeitos dos estimulantes líquidos.

Mas não somente de salões e casas noturnas definem por completo a palavra. Festejamos com bailes, com carreatas, com fogos de artifício, com banquetes, com as peculiares festas infantis, dos tios bêbados e das crianças que não gostaram de receber MEIAS daquela tia que só aparece duas vezes por ano e ainda aperta a bochecha da pobre criança que ganhou um infeliz par de MEIAS em vez de brinquedos. Festa é de casamento, é de campeão, é de aniversário, é de bodas. Festa tem salgadinho, docinhos, refrigerante (já dizia a Xuxa). Festa serve para rever aquela prima que veio do nordeste e aquele cunhado da mãe da sua ex. Festa é descobrir que seu sobrinho não está mais na quarta série e sim no quarto semestre da faculdade de Letras da Universidade Federal.

É ritmo! Ritmo de festa!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

POSSO BRINCAR LOUCAMENTE?

Posso correr por aí? Posso gritar de felicidade? Posso largar meu emprego? Posso votar em candidato inexistente? Posso viajar sem destino? Posso roubar beijo alheio? Posso ouvir minha música no máximo? Posso desistir no meio? Posso esquecer a fórmula? Posso errar a tabuada? Posso me esconder da polícia? Posso fugir da aposta? Posso rasgar o contrato? Posso me fingir de morto? Posso dormir na aula? Posso descobrir a América? Posso queimar dinheiro? Posso me atirar da janela? Posso me declarar loucamente? Posso dormir no escuro? Posso acordar depois do almoço? Posso dirigir sem carteira? Posso contar até mil? Posso colecionar histórias para contar? Posso projetar a torre de Babel? Posso ser feliz na minha vida? Posso te amar sem receio?

Quero passar frio no verão. Quero derreter no inverno. Quero bater meu carro. Quero escapar ileso. Quero furtar um coração. Quero enganar meu ego. Quero falsificar minha sorte. Quero adivinhar meu futuro. Quero mentir para a minha vida. Quero presentear meu azar. Quero sentir o desgosto. Quero me perder no labirinto. Quero tocar no teu rosto. Quero sentir teu cheiro. Quero pecar minha alma. Quero ouvir perdão. Quero desabafar com estranhos. Quero tremer as bases. Quero tirar a raiz. Quero multiplicar os quadrados. Quero reinventar os percursos. Quero modificar meus medos. Quero sentir meu perfume. Quero te contar meus segredos. Quero vender minhas riquezas. Quero ler a bíblia. Quero estudar o profundo. Quero pisar na brasa. Quero viver de emoções.

Pretendo seguir estudando. Pretendo começar uma carreira. Pretendo viajar contigo. Pretendo arrumar um emprego. Pretendo guardar dinheiro. Pretendo projetar o futuro. Pretendo ter meus filhos. Pretendo me casar contigo. Pretendo comprar uma casa. Pretendo fazer negócios. Pretendo dar educação às crianças. Pretendo solucionar problemas. Pretendo exportar e importar. Pretendo praticar um esporte. Pretendo rir e chorar. Pretendo ver meus filhos formados. Pretendo contar histórias de dormir. Pretendo cursar história. Pretendo ler muitos livros. Pretendo mudar o mundo. Pretendo amar para sempre. Pretendo ver meu pai.

Exposto em um mundo cruel, mas também em um mundo maravilhoso. Tenho possibilidades mil de ser o que eu quero, de manipular meu futuro ou de me atirar ao acaso. A vida não é curta. Ela é de um tempo suficiente, em que nela eu posso fazer e não fazer tanta coisa que nem imagino e nunca vou descobrir tudo que posso imaginar. Eu só não posso ficar sentado esperando. Infelizmente, eu sou um homem livre, e por isso não posso brincar loucamente.

domingo, 8 de agosto de 2010

ADMINISTRAÇÃO ATUALIZADA

Pergunto-me se estamos voltado à Administração colocada por Taylor, da máxima utilização do espaço e do tempo, da robotização do homem no chão de fábrica, assim por resumir. O objetivo foi sempre o mesmo, lucrar e depois maximizar o lucro. É claro que com a modernidade foi modelando este arcaico e rudimentar posto. Pensou-se primeiramente no tão discutido RH, modernizaram as idéias de organização, e cada vez mais a empresa foi se tornando próxima do público. Mesmo assim, vejo uma lacuna ainda grande que separa a Organização do seu meio social.

Fala-se bastante em cliente. O cliente é exageradamente visto como um Deus em muitas Sociedades de Capital. Não vejo isso como o correto. Sim , o cliente é o cidadão que traz divisas para as empresas, e que portanto as mantém, porém, esta relação cliente/empresa é totalmente retilínea, sem, até então aonde eu sei, demais benefícios às outras partes da sociedade. E há uma relação tão intensa entre estas duas partes, que os clientes não sabem mais o que querem, e as empresas já não sabem mais como agradá-los efetivamente. O simples ciclo da troca terminou, e hoje, já pode se dizer que muitas vezes não sabemos quem é quem.

Por mais que se tente deixar bem claro, as empresas “atuais” não me convencem que estão interagindo conosco e com a natureza. Desde a explosão da preocupação geral com o ambiente (aquele que se fundiu com o concreto), tornei-me um observador do papel, principalmente do segundo setor, quanto à remodelagem de políticas ambientais. Fez se questão de se dizer que o que saia das chaminés da indústria não era fumaça, e sim, vapor. Seria este o caminho encontrado por ecológicos e gestores para se chegar mais perto da sociedade? Primeiro chocá-la com as possíveis (e verdadeiras) catástrofes e suas conseqüências e depois assinar papéis recicláveis com grandes empresários, selando um termo de mobilização ambiental? Lembro-vos, que a mídia também é empresa. Exemplificando: Rede Globo, Bandeirantes possuem CNPJ.

É um desafio na verdade. Creio que está nas mãos dos Gestores aproximar suas empresas do contexto. Fazer com que as Organizações se aproximem mais daqueles que estão fora da linha cliente/empresa. Ser assim, um ingrediente de catálise que faça com que a sociedade seja mais sociedade. Claro que uma responsabilidade desta magnitude passa pelas mãos da população e do Governo também, mas é um tanto complexo obter resposta de partes tão distantes uma das outras, até mesmo conflito ideológico. Lucrar? Sim! Mas que o prejuízo não seja um bicho de sete cabeças que atormentam os contadores e executivos no final do semestre. Perder faz parte. Trabalhar, contratar, demitir, manter a rotina, se estressar, tudo é válido, mas também participar de uma forma mais lúcida neste planeta e refletir dentro do escritório: o que fazer para me aproximar da natureza e da comunidade. Só uma idéia, por enquanto...

domingo, 1 de agosto de 2010

OS SEIS SENTIDOS

Eu suava e minha respiração era dificultada devido à raiva que estava sentindo. Sentia-me cansado e decepcionado por não ter atingido um objetivo, ou por ter falhando na hora que eu não podia. Tinham-me feito de tolo e desejava os males àquelas pessoas que me fizeram chorar de angústia. Senti então, uma mão acolhedora em meu peito, que segurava meu coração que batia forte e me fazia voltar a mim aos poucos. Senti um calor vindo da palma daquela mão, e me acalmava aos poucos, já que sabia que a dona daquele calor me amava e queria meu bem. Virei-me para trás e vi seu sorriso acolhedor e com sua voz suave me disse: “te amo”. A alegria tomou conta de mim e a serenidade daquele momento me fez repensar nas atitudes que fizera e não poderia mais repetir. Tornei-me humano.

São fantásticos os sentimentos. Sinta-se à vontade a sentir absolutamente nada daqui a algum tempo, mas também te deixo livre a quem sabe jogar a culpa do teu sorriso ou da tua raiva no autor, ou seja, eu. Você, amigo (ou não) leitor, um dia foi trabalhar, pegou o teu carro e tinha uma maldita pedra no teu sapato, que já é apertado, e não conseguia apertar fundo o maldito pedal da embreagem, pois seu dedinho doía horrores com o pequeno pedaço de rocha vulcânica no teu sapato. Duas horas depois, olhava no relógio no canto direito do teu computador e, quanto mais o tempo passava, mais a fome apertava. Por indelicadeza da teoria da relatividade, a bendita da hora do almoço demorava mais para chegar.

Na sala de reunião, tu sentia tuas pernas bambas a medida que teu chefe ia soletrando a palavra “demitido”, mas depois um alívio fenomenal te encobre ao ouvir “promovido”: até rima. Na hora de chegar em casa, descobre que o STJD transferiu o jogo do teu time para semana que vem, e que agora terás que assistir a danada da novela das oito com a tua mulher. De contrapartida, teu filho tirou dez em geografia e tu não terás que estudar com ele em pleno fechamento do mês no final de dezembro! Tua sogra viajou para os Estados Unidos (bem longe) e teu velho tio descobriu que tu tens um carro novo. Acontece é que tu descobriste que tens um tio novo... estranho. Deitado na cama, ao som do gato da vizinha, uma reflexão: “hoje, eu senti dor, tensão, alívio, felicidade, desgosto, prazer”. Sentimentos são fantásticos.

É o que nos faz ser simplesmente, seres humanos. Se muitos outros não podem fazer coisas que nos parece simples, nós fazemos por ela. É o simples fato de viver em comunidade, que nos dá a condição de ser solidário com aos que nos dão como resposta um sorriso de agradecimento, que acaba nos fazendo chorar. Ao mesmo tempo, sentimos raiva ou fúria, para com aqueles que agem como antítese das nossas idéias e ações. Sentimos medo de muitas coisas, por mais que não queremos admitir nenhuma das tantas fobias de nome complicado que podemos sentir. A vida, a redenção, o erro, e a morte são fatos que inevitavelmente nos fazem “transpirar” sentimentos, e nos ajudam a ser seres humanos.

Quando nós choramos ao nascer, mal sabíamos do bocado de sentimentos que iríamos enfrentar durante toda nossa vida. Pergunto-me se sabíamos o que estávamos sentindo, mas confesso que não quero a resposta. Quero mesmo é saber, como foi que a maldita pedrinha foi parar no meu sapato e também saber por que motivos a vizinha não põe o bendito felino de miado onipresente, dentro de casa.