quinta-feira, 30 de setembro de 2010

OVERTAKING

Após a volta de apresentação, o carro está na pole. Trinta segundos e as luzes apagadas. O coração bate mais forte, o suor mal espera por descer na pele e o instinto é total. Nada é racional agora. As luzes vermelhas se acendem aos poucos, os motores roncam. Enfim, as luzes se apagam e trancamos a respiração. O instinto age. O pé no acelerador, mas com cuidado, todos querem a primeira posição, a curva é logo ali. Mais atrás, a briga é com a faca nos dentes, a cada metro, um pneu de vantagem é lucro. O óleo e a sujeira ficam para os de trás. Começou mais um Grande Prêmio. Começou a Fórmula Um!

E quando os carros se encontram na pista, os mecânicos enloquecem no pitlane. Se a batida é forte, o safty car entra na pista. Todos alinhados. O “balé” da Fórmula Um aquece os pneus enquanto o asfalto é limpo. Os comissários correm contra o tempo, e na relargada, o líder comanda as ações. Da primeira para a sétima marcha em poucos segundos. Durante a reta, quem está atrás fica com o arrasto aerodinâmico, na chuva, enxerga-se apenas nada. O vôo do carro na zebra é fundamental para uma volta rápida. Enquanto o piloto fecha a volta, vê a última curva e a adrenalina cresce. O pé fundo no acelerador, é a raiva posta para fora e a mão direita aumentando a marcha, deixa o carro livre para alcançar mais de 300km/h. A freada brusca no fim da reta traz toda a força da gravidade contra o pescoço resistente, mas os homens de ferro estão preparados pela verdadeira pancada da redução.

Para os boxes, vai o aviso: “estou sem aderência, é hora de trocar os pneus”. A equipe é como uma máquina. Todos estão postos para que se troquem os pneus em 5 segundos! Carro no chão. De volta para a pista. É o pior momento para qualquer piloto. Sentem-se obrigados a baixar a adrenalina e deixar a razão voltar. O limitador não deixa com que uma punição venha. 100 km/h e nada mais. No retorno, o desafio de aquecer os pneus. Todo o trabalho é refeito. E no calor da disputa, fica difícil segurar a posição. Se ultrapassado, o piloto bom dá um “X” no adversário e recupera a posição.

Em Spa, após a forte freada da reta dos boxes, enche-se o motor de potência, na Eau Rouge, a curva onde dá-se impressão de sair da pista. Em Monte Carlo, é quase inevitável uma batida na Sainte Devote. Depois de duas curvas em primeira marcha, o Túnel é o ponto máximo de aceleração no Principado. Na escuridão do Túnel, acidentes incríveis já aconteceram. A Curva Oito, na Turquia, é desafiadora. São 3 partes de puro desafio. Os médios não vencem a curva. A área de escape é opção. A parabólica é a curva que trás para a vitória em Monza. Uma curva cega, onde quem tiver um bom acerto e colado no carro da frente, sai em vantagem e consegue a ultrapassagem. Em Singapura, a noite é uma criança. A inovação trouxe as máquinas para o oriente, deixando perto do Japão. Na tradicionalíssima corrida de Suzuka, muitos campeões nasceram ali. Por fim, no Brasil, o conjunto de 3 curvas homenageiam o maior de todos. Ayrton Senna da Silva.

Quando o líder abre a última volta, a equipe vai ao muro. O muro que separa os boxes e a pista se enche de gente que reconhece o próprio trabalho, sabendo que o piloto vencedor não conseguiria sozinho. No carro, a última gota de suor e ao mesmo momento, a razão sai. E a torcida se levanta a medida que ouve mais alto o ronco do motor que trará a glória ao líder. Após a freada, todo o cuidado é pouco para não perder o controle do carro e retomar a aceleração na saída da última curva. A bandeira quadriculada é agitada pelo diretor de prova, e lento na reta, o vencedor se aproxima de sua equipe e vibra dentro do espaço minúsculo do carro. Cruza-se a linha, tira-se a mão do volante e vibra. Abaixa o giro do motor e comemora. A glória do pódio é o auge. O hino, a champanhe, a festa, a Fórmula Um.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ENTRE CORDAS

Conectei o cabo da minha guitarra no amplificador e o liguei. Ouvi o barulho do cabo metálico conectando-se no instrumento e o eco que ele produziu. Soltei a sexta corda, e num baque inicial, deixei o Mi soar livre. A distorção do som martelava nas paredes revestidas de espuma, enquanto eu pegava meu afinador e apertava no pedal. Som limpo. Detectei a nota padrão e afinei milimetricamente minha guitarra. Apertei no pedal. Som sujo. Enquanto tocava os primeiros acordes, ia sentindo o timbre, o volume, o som acelerando o coração. E com as mãos aquecidas, fui descendo na escala, atingi a nota mais aguda, o ápice. E enquanto as notas soavam livres pelo ambiente, eu sentia a vontade de puxar a alavanca, e no momento certo, o harmônico será necessário.

Play. E a introdução da música começou a rolar, até que o guitarrista tocasse as primeiras notas da canção, e enfim, eu seguia seus passos, sem hesitar em errar. Não tão bom quanto o original, mas a sensação de fazer parte da banda de sucesso era extraordinária. E na complexidade do solo, que me perdi entre as casas e as cordas. A base soava com amortecedor das nervosas palhetadas do solista. E o refrão marcante grudava na cabeça, seguido de uma linha de baixo espetacular. A cada nota executada, o peso da guitarra fazia com que eu entrasse de corpo e alma nas entrelinhas da canção. A minha melodia parecia estar em uma fina sincronia com a música executada pelo artista.

Quando a música fica calma, o guitarrista entra em uma espécie de transe, onde ele também avalia o que fora feto. Quando não sei tocar como o artista faz, eu invento, tiro o máximo possível das minhas cordas, tanto as de aço da guitarra, quanto as de tecido humano das que vibram na garganta. O guitarrista sente de tal maneira a música, que executa ela até com a voz, mesmo não sabendo explanar a poesia. A vibração dos auto-falantes do amplificador, traz uma vontade interminável de continuar tocando guitarra. Enquanto continuo deslizando meus dedos pelo braço da guitarra, tenho cada vez mais vontade de sentir o peso da distorção no meu coração. A cada segundo, o volume tende-se a aumentar.

O orgulho do guitarrista está em ver a marca de seus dedos no instrumento, o calo na ponta dos mesmos e o desgaste da palheta deformada. É quando há de se trocar as cordas. Sabe-se que aquele solo foi bom, quando no final da canção, sente-se a alegria e satisfação, mesmo com a música ter terminado. Ninguém precisa dizer isso, é pura paixão do instrumentista pela música. Paixão esta, que faz refazer o acorde quando erra, que faz lutar bravamente contra a corda desafinada, e que não ouve a reclamação do vizinho. Tocar guitarra é uma arte, e mais do que isso, é apaixonar-se por um instrumento, que traz consigo emoções diversas em um único momento, onde a nota tem liberdade para voar livre pelo espaço. A cada nota que voa, o guitarrista encontra-se no meio de um ambiente maravilhoso e está sendo convidado para ter a experiência de voar eternamente.

sábado, 11 de setembro de 2010

BYTES

Erro fatal. Pelo desespero de obterem-se informações a todo o momento, comunicação efetiva e entretenimento 24 horas, é que cometemos um distúrbio previsível: sermos dependentes das máquinas que criamos. É andar em círculos: criar uma máquina, ficar dependente, e quando não funciona, criar outra. E Assim continua. E é neste ataque cibernético, que vemos a infância, que passamos na rua, ir embora. Será que a internet e o vídeo-game estão retardando nossas crianças? É claro que o uso de diversos bites que desgasta seus olhos para divulgação (de forma gratuita) minhas reuniões de palavras de modo ordenado, mas no dia em que meu HD deu tilt, tive que utilizar o lápis e o papel. Sim! Este texto tem rascunho!

Na virada do ano de 1999 para o ano 2000, falou-se do famoso “bug do milênio”. Além de um erro histórico/geográfico/de tempo (o terceiro milênio começou em 2001), uma piada sem graça. E a primeira grande evidência da nossa dependência da relação perigosa entre homem/máquina. Tratava-se de um “bug” nos computadores mundiais, onde voltaríamos ao ano de 1900, pelo motivo dos computadores não entenderem o registro dos zeros do ano que viria. É pura dependência. O “bug” ao menos poderia ter servido para aguçar a criatividade dos autores de Hollywood. Aí, vale de tudo na ficção científica, que cria aventuras incríveis e heróis imortais que acabam salvando a terra e a vida nela, depois de uma catástrofe cibernética, onde tempestades lunares afetaram os aparelhos eletrônicos e fazia com que o núcleo terrestre parasse por ser de metal. Uma loucura sem pé nem cabeça. Caos ordenado.

Perdi alguns arquivos importantes. Meu problema eletrônico foi oriundo de uma “arma” também eletrônica, o vírus, cuja solução também é eletrônica. Ou seja, minha vida pessoal não fora afetada. Por que somos dependentes das máquinas? Ou seriam os benefícios delas irreversíveis? Pode ser um paradoxo intrigante, mas a mesma tecnologia que tira empregos, também pode fazer com que muitas pessoas estejam trabalhando. Pode-se obter a informação de forma rápida e objetiva, como também, nos iludir com mentiras cabeludas muito bem contadas. Podemos chegar à Lua (aonde tempestades terríveis e catastróficas para a vida na Terra acontecem. Oh meu Deus! fujam para as colinas!) ou até mesmo inventar mil maneiras para se convencer uma nação inteira que se fora à lua, sem ter tirados os pés do chão. Ou então poderei ficar dias escrevendo estes contrapontos e não publicar este texto. É, eu tenho medo da imaginação humana.

Se a revolta dos bytes ou a catástrofe anunciada ainda não chegou, não há motivos, até então, que nos faça abandonar estas adoráveis máquinas que construímos, e em massa. Os bytes ainda não são células capazes de se reproduzir e criar órgãos vitais (já que energia e impulsos elétricos elas já tem) e criar braços e boca para estrangular o usuário e dizer “seu besta, usa isso direito”. Também não duvido que algum dia nos aproximar deste ponto. Seria inteligente então, inventar alguma forma destas possíveis células se transformarem em algum tipo de câncer. Se temíamos virar reféns do digital, agora é tarde de mais para lamentar. Eu já me rendi. Meu computador apontou uma arma para mim e pediu dinheiro pelo resgate. Pifou.

domingo, 5 de setembro de 2010

BOBAGEM ELEITORAL

De dois em dois anos o brasileiro se diverte. Arma-se o circo. Depois de quase três décadas de ditadura, o Brasil vê-se hoje, ainda em euforia por ter se libertado dos poderosos generais e ainda leva na brincadeira a democracia que lhe foi exposta triunfalmente em 1985. Parece que a festa da democracia não acabou, e vem tendo proporções ainda maiores a cada eleição que passa. É correto dizer que votar no território nacional é seguro e rápido, fazendo com que o povo não perca tempo em filas e enfrentando burocracias completamente desnecessárias. É louvável o reconhecimento que o Brasil tem, por ter a eleição mais moderna e de apuração mais eficaz do mundo. Porém, de nada adianta, se o povo, por um paradoxo intrigante, não tem escolha, na hora de ir às urnas ou não. É votar ou votar.

Não venho me referir aos políticos corruptos, já que estaria sugerindo um debate cansativo e inútil. O que proponho é a reflexão sobre as piadas que nós já estamos acostumados a assistir na televisão e também sobre a obrigatoriedade do voto. Parte dos brasileiros fica na espera dos programas dos vereadores e deputados para rir. Os candidatos escolhem nomes bizarros e fazem trocadilhos estranhos com os números, além de poesias fracas. Vale tudo para chamar a atenção do público, que, desavisado, acaba votando em “boas praças” já que seu jingle era legal e o número, além do nome engraçado, era fácil de decorar.

Não nos surpreendemos mais com as figuras macabras que aparecem por poucos segundos (mas de muito bom proveito) na televisão, mas já esperamos a cada pleito para saber quem será o palhaço da vez. É claro, que o palhaço sempre é o povo. Mesmo sem as surpresas com as novas palhaçadas no horário eleitoral gratuito, rimos com gosto de candidatos como: Lobisomem, Vampeta, Biro-Biro, João-sem-perna (aquele que não passa a perna no eleitor), Tiririca, Papai Noel, Silvio Santos, sem falar dos candidatos teatrais que varrem a corrupção, limpam o senado e salvam a política.

E é com as falhas da democracia, que o Governo Federal desconfigura a arma de reação popular que o voto representa. É tanta liberdade concedida ao cidadão, tanto eleitor, como candidato, que o pleito tornou-se a baderna que conhecemos hoje. Superficialmente, a permissão de analfabetos e adolescentes (muitas vezes sem juízo) de irem às urnas, é o que completa a brincadeira toda. A obrigatoriedade do voto é a cereja do bolo. Votei com 16 anos, sim, mas tive o trabalho de fazer meu título, com a vontade de votar e sabendo que se não fizesse certo, estaria entregando meu país ao purgatório, bem próximo do inferno.

Mesmo assim, vamos às urnas mais uma vez, e continuaremos indo por um bom tempo. Aturaremos nossos atores não globais nos programas, e teremos a tristeza de ter os jornais noturnos interrompidos e perderemos o tempo da preciosa novela das oito (que pena...). Seguiremos ouvindo promessas avassaladoras que mudarão de forma radical o nível de desenvolvimento do país, mas não se sabe se é para melhor ou para pior. Continuaremos a perder alguns preciosos minutos do nosso domingo nos dias de pleito. Enfim, continuaremos a agüentar jingles nada criativos e sujeira de candidato por todos os lados. E você, vai votar? Vai sim, é obrigatório!